sábado, 21 de setembro de 2013

Little Miss Sunshine: 13 anos


Hoje uma garota chamada Ana Carolina completa treze anos. Quando cheguei na Alemanha, passeava nos corredores das lojas, olhava as bonecas da Barbie, caixas de lego, lápis de cor e pensava como ela ia gostar desses brinquedos e bugigangas, que, diga-se de passagem, eram sempre muito mais baratos desse lado do Atlântico. Fechei os olhos, escrevi uma prova de alemão, comecei o mestrado e, de repente, encontrei-me numa grande loja de departamento escolhendo os presentes para mais um aniversário da moça: um estojo de maquiagem, brincos, pulseiras e uma camiseta cool e que deixasse os ombros à mostra! Isso é um detalhe importante: ombros à mostra.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Cracóvia: a fábrica do Schindler em uma imperdível visita


“Minha querida Mama, estou saudável”. Assim, de forma curta e precisa, relata um filho suas condições de vida, em 2 de dezembro de 1939. “Posso receber duas correspondências por mês”, explicava ele sobre as regras do campo de concentração Sachesenhausen, em Berlim. Tudo para apaziguar os ânimos maternais aflitos no país vizinho. Esta carta e uma série de outros documentos estão expostos na Fábrica do Schindler - sim, o mesmo da película do Spielberg! -, em Cracóvia.
Assim como o portão e os trilho de trem marcam a imagem do complexo Auschwitz-Birkenau, é impossível não reconhecer a fábrica pelo filme (a Lista de Schindler). A exibição vai muito além da história do capitalista alemão, interessado em lucrar com a mão de obra judia, mas que no meio do caminho, acaba protegendo e salvando a vida de seus funcionários, a custo de muito suborno da polícia e contatos com oficiais nazistas.
 O espaço conta toda a ocupação alemã em Cracóvia, desde a invasão, a vida nos guetos judaicos, o transporte para o campo Plaszów e, finalmente, a libertação. Dá para passar horas puxando gavetas, ouvindo os áudios e apertando botões espalhados pela mostra mais do que interativa. A criançada (e eu também!) gosta bastante da simulação de um trem, com bancos de madeira e janelas- televisões com imagens da cidade à época. Um dos cartazes logo no início da exibição mostra o cerco começando a se fechar: todas as lojas pertencentes aos judeus deveriam ser identificada até o dia 09 de setembro de 1939, até às 17h (cartaz acima). Entre as especificações, era preciso colocar uma estrela de David na janela! Tudo assustadoramente bem detalhadinho!
Uma sala repleta de suásticas nos pisos e paredes marca, definitivamente, a Cracóvia sob ocupação nazistas e dali para frente a mostra fica mais tensa, com fotos das barbaridades ocorridas e de reconstruções de mini esconderijos insalubres e empoeirados. Na remontagem do gueto e suas muralhas, destacam-se imagens dos moradores, entre ele velhos e crianças, pouco antes do pior acontecera, além de frases de sobreviventes. Entre elas, e de um célebre garoto: “De repente, percebi que seriamos emparedados. Fiquei tão assustado que caí no choro”, relatou Polanski, com apenas oito anos.
 Às segundas, a entrada é de graça, mas é bom garantir os tíquetes bem cedo. Há horário marcado e é bem possível que após a retirada dos bilhetes, a próxima visita esteja marcada para ali a duas horas. Mas, sem problemas. Aproveite para ver os resquícios do muro que circundava o gueto a poucas quadras dali.







domingo, 1 de setembro de 2013

Polônia- Leste Europeu: Cracóvia e a Praça Rynek

Sim, trata-se da praça medieval mais bonita do mundo! Há quem discorde, mas a organização americana “Project for Public Spaces” parece concordar com o status da Rynek, que recebeu a melhor nota no quesito. Esta era a segunda vez que aterrissávamos em Cracóvia, a bela capital cultural da Polônia. Mas, desta vez, estávamos decididos a encontrar um pequeno café em alguma lateral da praça, o mesmo que há seis anos nos acolhera no gélido inverno.
Pouca coisa ficou na memória, a deliciosa sensação de estar aquecida, aconchegada em um local pequenino com no máximo cinco mesas, repletas de dumpling (aquela massa recheada típica) e um precinho bem do camarada. Chequei cada estabelecimento por lá, um a um. Nada, nenhum rastro do local. Olhei com rancor a Starbucks lá no meio. Nada contra, mas não combina. Não ali! Só porque o país entrou para União Européia, não precisa abrir a rede mais mainstream de café do mundo bem na Rynek.
Nosso cafezinho e suas lembranças foram liquidados. Tivemos que substituí-lo. Encontramos o restaurante Pod Gruszka, no segundo andar de um prédio, na esquina da praça. Estava vazio para um domingo à noite e conseguimos pegar a melhor mesa, à janela. Jantar com vista para a praça do mercado iluminada, cheia de carruagens brancas e o pavilhão renascentista, que ferve cheio de artesanato ao longo da tarde! Daria para ficar horas ali admirando o fim do dia.
Mas não sabíamos que, poucos meses depois de deixarmos a cidade, ainda naquela nossa primeira visita, escavações surgiram pela praça e perduraram quase quatro anos. Agora dá também para perambular pela área subterrânea do mercado, em uma exposição ultra interativa que leva os visitantes para os tempos do comércio medieval. Além de ossadas da época da guerra com a Suécia, há moedinhas da época, sapatos de mercadores (ou o que sobrou deles) e todo tipo de instrumentário dos antigos mercadores.
Para admirar a praça à luz do sol, nada como o terraço do café do museu de história de Cracóvia. Do alto, o vai e vem de pessoas, turistas, músicos e crianças correndo em frente a pontuda Igreja da Maria, além da fila de carruagens esperando pelo próximo passeio. Tudo, com uma docinha tortinha de limão. Tudo tão belo que nem os nazistas tiveram coragem de destruir como fizeram com Varsóvia. De tão estrondosa, a rebatizaram como Praça Adolf-Hitler. Uma ofensa!